Prólogo - Cidade dos Malditos
Meus pés tocavam o asfalto de pedras. As pedras já começavam a ferir a pele de meus pés a ponto deles sangrarem, mas continuava a corre, era isso ou ser espancada... Já havia visto muitos de meus amigos morrerem sendo espancados... Era algo triste, realmente triste, que partia meu coração, não poder fazer nada, senão teria o mesmo fim... As pessoas do submundo acabavam por se acostumar com a morte, não importava o quanto se demora, a morte era algo comum para pessoas do submundo... Mas eu ainda não conseguia me acostumar...

Em minhas mãos deveria haver somente um pedaço de pão meio mofado e uma garrafa de leite que estava meio vazia. Outras crianças corriam ao meu lado, cada uma com algo em seus braços. Essa era nossa realidade, roubar e revirar latas de lixo... Não tínhamos outra forma de sobreviver... Um garoto mais a frente abriu a tampa do bueiro que dava até nossas catacumbas, paramos todos ofegantes, estávamos seguros. Em um beco muito afastado das zonas de vigia. Ao menos era o que achávamos... Escutei algo ao longe, que me lembrou um grito.

-O que foi isso? – Me virei para a direção da rua, apertando o pão e o leite contra o peito.

-Não foi nada Emy, vamos logo.

Houve disparos, o que chamou a atenção deles. As luzes das lanternas dos policiais faziam sombras anunciando sua chegada. Se voltássemos para casa descobririam nosso esconderijo... Teríamos que nos separar e sair correndo, rezar para eles estarem em menor número para sermos capazes de despistá-los. Éramos crianças magras e fracas, ele eram adultos fortes e bem alimentados, não tínhamos chance alguma...

Saímos correndo, nos separando, cada um indo para um lado diferente. Eram um número grande. Droga!

Deixei meu pão e leite caírem no chão, se eu tivesse que saltar isso facilitaria. Dois guardas me perseguiam. Escapar seria impossível para mim. Pulei por um muro. Que irônico... Um cemitério, por que coisas ruins sempre acontecem em cemitérios?

Tropecei caindo no chão de joelhos, minhas forças pareceram desaparecer do meu corpo, não conseguia me levantar. Aquele estava sendo o começo do meu fim...

Quando os policiais me alcançaram, me puxaram para trás bruscamente. Fechei meus olhos esperando, mas não houve nada, nem tiros, socos ou pontapés... Escutei os gritos deles e sangue pingar no chão... Quando abri os olhos novamente, vi cabelos prateados balançarem juntamente com o vento, olhos dourados como os de um gato, alto e de pele alva, usava um terno preto e segurava uma espada imperial... Deveria ser alguém importante.

-Você esta bem criança?
-Sim...
-Como se chama?
-Emilly...
-Emilly o que?
-Só Emilly...
-A partir de hoje se chama Emilly Herloz. – Ele guardou a espada e me estendeu a mão. – Venha, vou levá-la para minha casa. Será minha irmãzinha a partir de hoje. Segurei a mão dele e saímos andando. Eu havia escapado do submundo? Aquele era o fim de uma vida... E o inicio de uma nova. Estava feliz...
-Como se chama senhor?
-Raymond. – Ele sorriu. – E não me chame de senhor, assim pareço velho.
Naquela noite, a lua parecia mais brilhante...