Capítulo Dois - Pesadelo
- E no que você estava pensando para fazer isso?! – Raymond estava sentado em sua poltrona acolchoada, e revestida por um veludo vinho. Ele estava com o tom de voz alterado.

– Me diga! - Encolhi os ombros e abaixei a cabeça.

- Desculpe-me...

Raymond estava me dando uma bronca... Obviamente eu não falei do que aconteceu, disse que tinha saído para comprar doces e que cai perdendo os doces, não falei que quase fui morta e que um garoto irritante parou para falar comigo. Obviamente isso eu não falei.

"As pessoas do submundo nos vem com ódio, afinal as tratamos como vermes... Você deve vê-los da mesma forma, como meros vermes, que precisam de piedade. Certo?"

Era verdade que as pessoas viam os habitantes do submundo como vermes. Mas as pessoas do submundo não odiavam as pessoas da cidade... Não todos... Não prestei atenção no discurso de responsabilidade que Raymond estava falando, como qualquer irmão mais velho falaria. Minha mente estava vagando pelo passado, pelo labirinto que eram as catacumbas do submundo. Era estranho, mas durante oito anos nunca havia parado para pensar que talvez... A vida como uma pessoa do submundo, mesmo sendo mais difícil, triste e cinzenta... Me fazia grande falta...

- Senhor Raymond... – Chamou Elena. – O jantar esta na mesa...

- Certo. Vamos Emilly. – Ele se levantou e andou até a sala de jantar. Demorei um pouco para fazer o mesmo.

Fiquei cutucando a comida com o garfo, e botando pequenas porções de comida na boca. Não cheguei a comer metade da comida em meu prato quando me levantei. - Estou sem fome. Peço licença, eu estou indo dormi. – Sai andando do cômodo e subi as escadas andando ate meu quarto.

Tomei meu banho, e demorei o Maximo que pude para sair e botar a camisola de seda branca. Me sentei na janela, aquele imenso espaço acolchoado, com bonecas e livros. Levantei uma das almofadas e retirei um velho caderno. Aquele caderno havia sido a primeira coisa que havia comprado depois que Raymond me adotou. Elena havia me falado que era bom se escrever sobre o que se conhecia, sentia, sonhava...

Abri o caderno, o folheando. Aquele caderno era a única coisa que fazia a garota do submundo ainda existir. Haviam desenhos, vários desenhos. Coisas que seriam como os mapas das catacumbas, os segredos e caminhos para se chegar na cidade dos malditos...

As ultimas 4 folhas estavam vazias, e no topo delas só tinha uma coisa escrita "Vale dos Desejos"... O único lugar do submundo que nunca cheguei a ver... Era a parte mais afastada do submundo. O lugar mais afastado... Antes que fosse resgatada por Raymond, havia ocorrido um deslizamento, impedindo qualquer um de ir para aquele lugar.

Lembro que dávamos nomes para os lugares... Onde morávamos era a "Cidade dos Malditos", onde estava o rio subterrâneo era a "Águas Negras", haviam tantos lugares... Lembro quando meus amigos haviam criado esses nomes... Lembro também, que todas as crianças chamavam os lugares pelos nomes inventados, e os adultos começaram a fazer o mesmo. E havia os apelidos que nos dávamos para serem nossos códigos...

Apesar da pobreza e da miséria do submundo... Apesar de todos os dias correr risco de ser morta enquanto revirava latas de lixo para ter alimento... Apesar de tudo.. Eu era feliz... Fazia oito anos que vivia na cidade da superfície... Era divertido... Mas se não fosse por Elena e Raymond, eu estaria completamente solitária... Por mais que eu conversa-se e tenta-se ser amiga dos empregados, eles continuavam a me tratar como uma superior, e ate Elena era distante as vezes, e Raymond estava sempre trabalhando... Então sempre passo a maior parte dos meus dias sozinha com os livros...

Fechei o caderno e me deitei, ali mesmo, junto de minhas únicas companhias naquela casa... As bonecas e os livros... Realmente, a grama do vizinho sempre parece mais verde... Fechei meus olhos, começando a ser lentamente levada para um mundo de sonhos.

Abri os olhos devagar, estava com frio... Me sentei e guardei o caderno debaixo das almofadas, onde sempre o guardava. Vi vultos correrem pelas ruas. Fiquei de joelhos e encostei as mãos no vidro da janela. Um garoto de cabelos prateados passava correndo pela rua.

- Emilio?.. – Pisquei os olhos repetidas vezes.

Minha imaginação havia me enganado. Realmente tinham pessoas do submundo correndo ali, mais nenhum de cabelos prateados. Havia um garoto loiro com o cabelo desgrenhado. Mas ninguém realmente parecido com Emilio... Estava tendo alucinações pelo visto. Me afastei.

Mas se eles estavam correndo daquela forma, era por que estavam sendo perseguidos... Voltei e abri a janela, curvando meu corpo para fora da janela. Logo vendo os guardas. Os garotos haviam se escondido. Era capaz de ver todos.

- Senhores! – Chamei a atenção dos guardas apos ver onde cada um dos garotos estava. – Eles foram para lá! – Apontei para uma ruela.

Eles gritaram comandos e seguiram por onde eu havia falado. Fiquei observando eles se afastarem e olhei para o garoto loiro que me encarava sem compreender por que havia os ajudado.

- Andem logo, eles logo chegaram a um beco, e vão ver que não estão la e vão voltar. Se quiserem continuar vivos saiam logo daqui. – Desta vez não havia gritado. Eles estavam mais próximos, e como o lugar estava em silencio eles iriam me escutar.

Fechei a janela, mas continuei ali os observando, e só me afastei do vidro quando os perdi de vista. Caminhei ate minha cama me sentando e olhando para a janela. Suspirando. O que eu podia fazer por eles já havia feito. Só podia rezar para que chegassem a salvo...

Me deitei me cobrindo ate o nariz. Voltando a dormi.

Abri meus olhos me acostumando com a luz que parecia cegar-me, havia uma gata preta com olhos roxos sentada na cama, próxima do meu rosto. Pisquei os olhos, ainda deveria estar sonhando. Assim que abri meus olhos s gata não estava mais lá. Sentei-me na cama olhando o quarto atentamente, procurando a gata. Mas ela não estava lá, se realmente ela estive-se estado em meu quarto... Devia estar imaginando, assim como achei ter visto Emilio correndo na rua ontem à noite. Comecei a me espreguiçar. Deveria estar ficando louca. Houveram três batidas na porta.

- Senhorita Emilly? – Escutei a voz de ela soar abafada. – Posso entrar?

- Claro.

Quando a vi entrando sorri. Elena andou ante o criado mudo ao lado da cama, botando meu café da manhã lá.

- Dormiu bem? – Elena olhou para mim sorrindo casualmente, afirmei com a cabeça.

– Bem... Senhor Richard contratou um alfaiate e um costureiro ara fazer seu vestido. – Levantei os olhos a fitando interrogativamente. – Para a sua festa de 16 anos.

- Hum... – Peguei um dos biscoitos e o mordi. Me deliciando com o sabor de chocolate.

- Será um baile de mascaras! – Elena botou as mãos no peito, dando um leve giro.

– Isso não e romântico Emilly? – Ela sorriu docemente. – Você irá conhecer muitas pessoas, e dentre elas seus pretendentes para se casarem com você.

Engoli o biscoito.

- Sei disso... É costume ser assim. – Limpei a garganta e comecei a falar como se fosse uma professora. – Uma moça sempre ao completar 16 anos, e apresentada para a sociedade e para seus futuros pretendentes a conheçam como uma formosa dama, e possam assim pedi-la em casamento com a intenção de casarem-se com ela.

- Bem, vou ir cuidar de meus afazeres. – Ela andou na direção da porta e assim que encostou na maçaneta soltou uma pequena exclamação. – Antes que eu me esqueça, esteja pronta em 40 minutos, imagino que você saiba para o que seja. – Então ela saiu.

Olhei para a janela, me imaginar noiva era tão... Na verdade, já era estranho me imaginar recebendo um pedido de noivado.

Levantei-me da cama, andando em passos lento na direção do banheiro. Quando abri a porta do banheiro, senti minha cabeça latejar, tudo começou a girar, minhas pernas ficaram bambas, e o chão pareceu sumir. Despenquei caindo com tudo no chão frio. Meus órgãos pareciam estar sendo espancados e esmagados. Comecei a tossir, meu pulmão ardia, parecendo pegar fogo... E a tosse vinha parecendo me rasgar por dentro.

O que estava acontecendo?

Eu gostaria de saber a resposta...

Minha visão foi ficando turva. Meus olhos se fecharam contra minha vontade, forcei-me a abri-los tentando não perde a consciência. Quando os abri, havia um gato branco de olhos verdes a minha frente, fitando-me. Meus olhos pesaram novamente, e tudo a minha volta se tornou apenas um borrão. Antes que a consciência fugi-se de mim escutei um miado, e tudo ficou escuro.

Encolhi-me, estava muito frio, ou eu estava com febre? Abri meus olhos com certo esforço, e estava tudo escuro. Já era de noite? Levantei-me o mais rápido que pude. Ninguém havia me procurado, será que havia acontecido algo?

Sai do quarto rapidamente, e fiquei andando pela casa escuro. Só a luz pálida da lua iluminava aquele lugar, não conseguia enxergar nada naquela penumbra. A casa parecia maior do que realmente era, estava tendo a sensação de estar andando mais que o costume. Escutei uma canção baixa, muito baixa, tornando a voz irreconhecível, só era possível percebe que era uma voz feminina. Comecei a corre na direção da musica. Deveria ser Elena.

Parei de corre na frente de uma porta. A respiração acelerada, aquela não era Elena cantando... Mas que conhecia aquela voz... Conhecia bem.

- Beatrice?.. – Encostei na maçaneta a girando devagar, comecei a abri a porta, a escutando ranger. Assim que terminei de abrir a porta vi o cômodo vazio.

Entrei, olhando para os cantos do cômodo. Nada. Estava sozinha... O lugar estava quase completamente vazio, havia um violino e um grande espelho antigo de madeira. Suspirei, me virei para sair do lugar. Um vento forte soprou e escutei um miado.Me virei olhando para o espelho, os dois gatos estavam de pé me encarando. Eles se viraram de costas para mim e pularam para dentro do espelho, que se transformou subitamente em varias feixes de luz. O chão do lugar começou a quebra como cacos de vidro, o som da porta sendo fechada. Estava presa.

Abri os olhos e me sentei de súbito, a respiração acelerada.

- O que... Foi isso?