Capítulo Três - A Coringa

Olhava para meu reflexo... Não sabia aocerto o porque, mas não sentia que aquele reflexo era meu... Estava parecendo uma boneca de porcelana perfeita, o cabelo castanho solto meio ondulado com as pontas cacheadas passava de meus ombros, meu vestido era comprido e azul celeste, cheio de babados delicados brancos e prateados... Elena terminava dearrumar meu cabelo. Ela parou de arrumá-lo, ela havia pegado e feito duas tranças cada uma em uma lateral de meu rosto, e as prendera com uma fita azul clara.


- Vou ir pegar a máscara, volto logo. – Elasorriu e saiu do quarto, apressada.


Não havia procurado um médico ou qualqueroutro profissional que pudesse avaliar aqueles sintomas que havia sentido aalguns dias atrás... Mas eles não se repetiram, nem as alucinações. Peguei asluvas de renda branca, e as coloquei, suspirando.


Era estranho, mas não estava nervosa. Estava completamente calma. Elena voltou correndo, segurando uma máscara emformato de borboleta, que tinha as mesmas cores do vestido. Botou-a com cuidadoem meu rosto e sorriu.


- Vamos Emilly. – Assenti para ela,sorrindo levemente.

Afastei a cortina vermelha com os dedos,olhando para o salão de festa lotado de pessoas que dançavam e conversavam animadas. Aquela cortina escondia a parte mais alta do salão, onde eu estava.Não estava escondida por nervosismo ou qualquer outro motivo desse tipo, mas por ainda não ser a hora certa para que eu entra-se.


- Emilly? – Virei-me enquanto me curvava, levantando as bordas do vestido levemente, demonstrando respeito para ele. -Esta quase na hor–. - Raymond falou indo para meu lado. Afastou um pouco a cortina vermelha, assim como eu havia feito segundos atrás. – Tem muitas pessoas ali. Está nervosa?


- Para ser sincera, estou completamente tranqüila. – Sorri para ele, olhando para o salão assim como ele. – Então...quand...

- Agora mesmo. – Ele estendeu a mão paramim. – Você ira entrar agora.

O maestro que regia a banda parou de tocar a musica aos poucos. Começou a tocar uma mais suave. Segurei a mão de Raymond, que me guiou para o outro lado da cortina, indo para a imensa escada, descendo-a comigo. Conseguia sentir os olhares de todas aquelas pessoas em mim, enquanto descia as escadas de forma lenta. Aquilo era constrangedor. Mas havia conseguido manter a calma, o que me tornou capaz de não ficar com o rosto corado.


Finalmente terminamos de descer as escadas.Raymond já havia feito o discurso dele, então logo fui rodeada de pessoas, que falavam comigo sorrindo. Todos usavam mascaras, e mesmo se não estivessem, os rostos daquelas pessoas seriam como uma máscara. Pois nenhum deles era quem realmente diziam ser, assim como eu.


O maestro voltou a reger a musica que regia antes. As pessoas logo voltando a dançar.


- Senhorita Herloz. – Uma voz estranhamente familiar me chamou. – Me daria a honra de sua primeira dança? – Virei o rosto para quem havia dito isso.


Por trás da máscara negra, podia ver os olhos azuis quase brancos de tão claros, e seu cabelo era vermelho como fogo meio bagunçado... A voz dele era a mesma voz do homem que havia falado comigo enquanto saia do beco... O mesmo que estava rindo. Será que eram a mesma pessoa?


- Willian Hobblrdy. – Sorriu Raymond. –Esta aproveitando a festa?

Ele sorriu para Raymond, como se dissesse algo. Os dois ficaram em silêncio. Senti um leve tapinha nas costa, vindo de Raymond, me incentivando a pegar a mão de Willian Hobblrdy. E foi isso que fiz.
Willian me guiou ate o centro do salão, onde todos dançavam. Botou a mão em minha cintura enquanto com a outra segurava aminha mão. Botei minha mão em seu ombro, quando ele começou a guiar a dança.

- Vejo que nos encontramos novamente. –Disse ele sorrindo divertidamente.


Então era a mesma pessoa.

- Aparentemente. – Falei um pouco aborrecida, parecendo uma criança.

- Não esperava essa reação vindo de umaHerloz. – Ele sorriu. Aproximou seu rosto do meu ouvido sussurrando nele. – Mediga, onde Raymond Herloz a encontrou? Eu sei bem que ele não tem nenhuma irmãzinha.

Engoli em seco. Como ele sabia?

- Eu sou uma das varias crianças órfãs dosubmundo.

- Como ele lhe adotou? – Ele se afastou, ainda falando em voz baixa.

- Estava fugindo de guardas, quando ele me salvou e adotou.

- Você não acha uma atitude suspeita? – Ele curvou meu corpo repentinamente, me olhando nos olhos. Senti minhas bochechas arderem, agradeci pela mascara cobrir meu rosto, o impedindo de me ver corada. Ele me puxou de volta lentamente. – Em vez de adotá-la de modo convencional ele ter a adotado de modo tão repentino?

- O que você estar querendo dizer senhor Horbblrdy? – O questionei em voz baixa, praticamente murmurando as palavras.


- Você nunca suspeitou do seu “irmão”? –Ele disse a palavra irmão com um ar irônico. – Nunca estranhou que ele lhe escondia? Ou como nunca deixou ninguém saber de sua existência? Se ele tivesselhe mostrado como uma criança adotada, ele teria aumentado a fama de bom moço dele. – Willian sorriu, de um modo tão gentil que me irritou profundamente. –Não acha as atitudes dele estranhas? O modo como ele às vezes esta conversando com alguém e muda de assunto subitamente ao percebe que está por perto?


Engoli em seco. Como ele sabia? Certas coisas são óbvias, mas... Como ele sabia de tudo aquilo?


- Estou certo pelo visto. – Ele sorriu vitorioso

.
- Ainda assim, ele sempre esta falando de negócios. Simplesmente não quer me preocupar por seu trabalho. – Disse segura de minhas palavras. – A única pessoa suspeita que conheço é você, que começou a falar dessas ideias sem fundamento.


- Senhorita Emilly, em algum momento eu disse que minha pessoa não era suspeita? – Ele riu divertindo-se. – De todas aspessoas aqui presentes, eu e Raymond somos as que guardam mais segredos. – Ele aproximou-se novamente. – Diferente de você, não sou um boneco. – Ele parou de dar as leves piruetas da dança.


- O que você quer dizer com isso?


- Exatamente o que eu disse. – Ele se afastou, curvando-se a minha frente, pegando minha mão direita e depositando um beijo na costa dela. Mais uma vez agradeci pela mascara estar cobrindo meu rosto corado. – Foi um prazer dançar com você senhorita Herloz.


Ele começou a se afastar, logo não podia mais vê-lo, por causa da enorme quantidade de pessoas.


Continuei a fazer o que deveria fazer ali.Conversa com algumas moças, para me enturma, dançar com aqueles que me pediam.Tudo o que se faz em bailes entediantes como esses.


O que Willian havia me dito ecoava em minha mente. Impedindo-me de prestar a devida atenção no que ocorria.


As luzes do imenso salão apagaram repentinamente, o que me assustou. Logo todas as velas se acenderam como um passe de mágica, olhei para o centro do salão, me surpreendendo um pouco.


- Boa noite meus caros. – Ela se curvou perante todos, usava uma meia preta com todos os naipes de cartas nela em um tom de verde, uma sapatilha verde, e uma saia bufante com as pontas triangulares com guizos prateados. A saia tinha duas cores, preto e verde escuro, um cinto de couro e uma blusa levemente justa metade verde e a outra metade preta. Ela também usava duas luvas negras e um chapéu com varias pontas e com guizos prateados nelas, o chapéu tinha as mesmas cores do resto da roupa. Ela não usava máscara, mas em seu olho havia um risco verde o cortando, feito pela maquiagem. Seu cabelo era curto e castanho, assim como seus olhos.


- Quem é você? – Escutei a voz de Raymond do outro lado.


- Eu? – Ela riu um pouco. – Sou apenas um“presente”. Fui contratada por um convidado, para alegrar essa festa.


Como alguém que usava cores tão escuras poderia alegrar a festa?


- Olhem bem. – Ela moveu a mão esquerda rapidamente fazendo aparecer nesta uma maçã. – Estou aqui. – Ela moveu a mãonovamente fazendo a maçã sumir. – Para diverti-los.

O som dos aplausos ecoou pelo salão. Não se escutava mais a música, na verdade nem sabia se ainda estavam tocando musica, o som dos aplausos era tão alto que tomou conta do local.
- Acho justo, que a pessoa que esta sendo prestigiada hoje. – Ela estendeu a mão direita para minha direção. – Seja minha assistente. Não concordam?


Raymond abriu a boca para protesta. Se ele tivesse falado algo, sua voz foi abafada pelo coro de “sim” dos convidados. E eu queria participar daquilo. Parecia divertido.


Andei até ela pegando em sua mão.


- Espero que goste do espetáculo. – Ela sorriu, erguendo a outra mão. O fogo das velas ficou mais forte por uns segundos e logo se apagando, mergulhando a sala no escuro. – Feche os olhos, minha cara. – Obedeci-a. E por um segundo me senti extremamente leve, como se não pesasse nada.

Senti meu corpo ser puxado subitamente por algo, e abri meus olhos. A coringa segurava meu pulso e corria me puxando com ela.


- O que esta havendo?! – Perguntei assustada.


- Fique quieta! – Ela olhou para mim. –Estou salvando a sua pele, então fique calada! – Disse ela. Quando abri a boca para falar algo ela adiantou-se. – Se falar qualquer coisa eu arranco a sua língua!


Fechei a boca quase de imediato.


Estávamos correndo pelas catacumbas. Por que estávamos ali? Escutei o som de vários passos apressados e olhei para trás vendo vários guardas no seguindo. O medo tomou conta do meu corpo. Eu sentia como se houvesse voltado pro passado. Voltado a ser a Emilly que morava no submundo, sendo seguida por guardas e fugindo deles para viver. Cada um deles segurava uma arma. Eles miraram em nossa direção.


- Droga! – Assim que atiraram, a garota parou e se virou para eles em uma velocidade assustadora, fazendo um “X” com osbraços e o desfazendo rapidamente. O que fez as balas pararem de avançar e os guardas caírem no chão, como se tivessem sido jogados.


- Vamos logo! – Ela pegou meu pulso e voltamos a corre.


- Obrigada... Eu acho...


- Eles querem me matar, mas creio que se por acaso lhe acertarem, não fará muita diferença. – Disse ela. – Me chamo Katherine. Mas pode me chamar de Kate.


- O que esta acontecendo?! – Praticamente gritei aquelas palavras.


- É bem simples. – Ela olhou para mim, séria. – Existe alguém que esta tentando matar os sete. – Ela suspirou quando viu minha expressão de confusão quando ela havia falado aquilo. – Explico sobre os sete depois, o importante e você saber que Raymond e Willian são duas pessoas que são desse clubinho de sete pessoas. E como você e uma pessoa próxima de Raymond e que conhece Willian, você é um alvo também. E podem querer manipulá-la para destruír os dois.


- Eles sabem disso?


- Bem, Willian sabe, agora Raymond não sei, ele evita contato com quase todas as pessoas, e ele não se dá bem com Willian.


- Você fala de um modo estranho...


- Vamos dizer que... Eu não sou da sua época...Eu seria do “futuro”.


Antes que pudesse falar algo, entramos em uma espécie de clarabóia em que todas as entradas haviam guardas, nos duas nos viramos, para trás, por onde entramos e agora também haviam guardas.


- Droga, não queria usar isso agora! – Ela soltou meu pulso.


Houve o som de muitos disparos, mas não haviam sido contra nós. Os guardas caíram no chão... Estavam todos...


Mortos.